Afirmação é do Presidente da Unimed em Sorocaba
Assis Cavalcante/Agência BOM DIA
A Unimed passará a contar com uma central de tumores, um banco de dados que será usado para a pesquisa dos diferentes tipos de tumores malignos. A intenção é entender porque eles se desenvolvem de diferentes maneiras em casa pessoa. Agência BOM DIA
Histórico profissional_ Formado em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba, especializado em oncologia. Foi docente da Faculdade de Medicina por 31 anos e ajudou a criar o Gpaci (Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil). Foi diretor do Santa Lucinda e do Pronto-Socorro Municipal, trabalhou por quase 30 anos na Santa Casa de Salto de Pirapora e em 1996 assumiu a presidência da Unimed, onde cumpre seu quarto mandato consecutivo. É também integrante da diretoria nacional da cooperativa de médicos
Conselho_ Como o senhor vê a situação na qual se encontra o Conjunto Hospitalar de Sorocaba?
Rodolfo_ O CHS, em sua entrada, tem uma placa de inauguração. Devem ter trocado aquela placa tantas vezes que as buchas que a prendem espanaram. Cada novo governador que entrou, reinaugurou a unidade. Mantida a atual gestão estatal do jeito que é, aquilo será um eterno ralo de dinheiro. Poucas pessoas sabem, mas hoje em dia qualquer pessoa que sofre um acidente grave é levado para o Hospital Regional dentro do CHS. Não importa se você quer ser levado para o Albert Einstein, você será levado para lá. A condição financeira de cada um não importa. Meu pai, por exemplo, foi atropelado na Raposo Tavares e morreu na mesa de cirurgia do Regional. Ele foi muito bem atendido por sinal. Sendo assim, é fundamental que o atendimento seja impecável. Hoje, no entanto, são muitos problemas.
Conselho_ E qual o caminho para reverter o quadro?
Na minha visão, o CHS deve ser transformado em uma fundação, com um conselho que tenha membros da comunidade, com uma diretoria executiva e com um contrato de gestão que possa dar flexibilidade na parte de pessoal, concorrência e compras. Um hospital é algo muito dinâmico, você não pode ficar engessado. Com uma estrutura estatal na minha visão não há conserto para o CHS. Uma fundação, por exemplo, poderia oferecer uma remuneração diferenciada. Um diretor de CHS, com gratificações, ganha em torno de R$ 8 mil, isso sendo responsável por mais de dois mil funcionários, médicos, estudantes e pacientes. Da forma como está, interventor nenhum dará jeito.
Conselho_ O que há de tão ruim na gestão estatal?
Rodolfo_ Em saúde, toda vez que se envolve política partidária é encrenca. O setor engloba áreas técnicas que não podem estar ao sabor de política. Estou me referindo de maneira genérica ao Brasil inteiro. Lula, o ex-vice-presidente José Alencar e a Dilma quando precisaram ser tratados foram para o Hospital Sírio Libanês e não para o SUS (Sistema Único de Saúde).
Conselho_ E qual seu sentimento em relação ao episódio das fraudes?
Rodolfo_ Eu não quero prejulgar pessoas. A grande maioria das pessoas é honesta e correta. Se o Heitor Consani (ex-diretor acusado de participar de fraudes) for inocentado, como fica? Acho que se errou, deve pagar. Responsabilidade é individual e não se transfere. Agora aqui no Brasil, infelizmente, vai preso ladrão de galinha e quem não paga pensão alimentícia. Os outros estão circulando com bons advogados. O brasileiro tem uma característica: à medida que o tempo passa, ele vai esquecendo e perdoando.
Conselho_ Acabando-se com as fraudes o CHS melhora?
Rodolfo_ Não, a estrutura é arcaica. É preciso de uma gestão moderna, de gerenciamento. Em algumas áreas tem mais cacique que índio. Um hospital com boa gestão tem de ter centro de custos e receitas. Você precisa saber quanto custa o metro quadrado da limpeza e quanto custa uma hora de centro cirúrgico. Mais de 95% dos hospitais brasileiros não conhecem suas despesas.
Conselho_ Por que os planos de saúde e a medicina em geral é tão cara?
Rodolfo_ Medicina não custa barato. Vou dar um exemplo: o remédio com que a Unimed mais gasta é um para tratar câncer de mama, o qual custa R$ 6 mil o frasco. Dois frascos e se vão R$ 12 mil. Como se controla isso em mega instituições? Uma cirurgia de coluna vertebral que usa placa, pino e parafuso, só de material pode chegar a R$ 150 mil. Atualmente a Unimed mantém quatro pacientes em internação domiciliar que ao mês custam R$ 105 mil. Hoje em dia você construir um hospital é o de menos, o duro é mantê-lo aberto. A Unimed jamais recebeu um incentivo fiscal e não aceitou a doação de terreno, justamente para não ter o rabo preso.
Conselho_ Antes se falava que atendimento médico de qualidade era só em São Paulo ou Campinas. Essa mentalidade mudou?
Rodolfo_ Sim. Na Unimed fizemos um hospital focado em qualidade. Hoje não é preciso deixar a cidade.
Conselho_ Mas ainda há queixas em relação aos planos de saúde...
Rodolfo_ Enfrentamos alguns problemas. Por exemplo: Existe geriatra no Brasil? Existem reumatologistas em número suficiente? Agora enfrentamos outro problema, pois médicos que se formam não querem fazer pediatria. Sobram vagas na residência de pediatria. Não adianta a ANS (Agência Nacional de Medicina Suplementar), que regula os planos de saúde, determinar certas coisas e ignorar essas questões. Vamos tentar cumprir, mas ela faz resoluções em âmbito nacional desconsiderando diferenças de realidade. Eu já vi hospital na Amazônia em que a cama do doente é uma rede. Hoje em dia todos os planos de saúde são obrigados a oferecer os mesmos procedimentos. Cabe ao paciente escolher com base em preço e qualidade.
Conselho_ Existe falta de leitos, mas também faltam médicos?
Rodolfo_ Profissionais não. O Brasil tem hoje um número de faculdades de medicina superior aos países mais populosos do mundo. Hoje há 181 faculdades no país. O problema é que vamos formar 17 mil médicos por ano para os quais há 6 mil vagas em residência. Ou seja, 11 mil não farão especialização. Fico pensando que tipo de médico estamos formando. Você vai colocar um médico para atender em cidadezinhas do interior com quais condições? Não tem laboratório, não tem raio-x. Acham que é corporativismo quando médicos questionam a formação de tantos novos profissionais, mas a verdade é que não há estrutura para todos. No começo do século 20 os EUA fecharam metade de suas faculdades. Já houve iniciativas de controle no Brasil, mas por influência política elas sempre abrem.
Conselho_ E sobre a Santa Casa romper o contrato com a prefeitura e querer fechar o Pronto-Socorro Municipal?
Rodolfo_ Não conheço os números e isso requer uma análise técnica, mas não é porque é um hospital filantrópico que precisa operar no vermelho. É questão de auditar e ver se o que poder público dá é suficiente. Acredito que caso não haja acerto, a prefeitura fará a intervenção.
Conselho_ É complicado administrar um pronto-socorro?
Rodolfo_ Ninguém mais quer ter pronto-socorro. Cerca de 90% das pessoas que vão aos pronto-socorros não são casos de emergência. Isso na rede pública e privada. Tem gente que vai ao PS pedir exame de colesterol. Isso é cultural e não é só do sorocabano. Ele sabe que indo, será atendido.
Conselho_ A postura do paciente mudou com a internet?
Rodolfo_ Tem paciente que chega com toda a bibliografia da internet. No mundo virtual tem muita coisa boa, mas também muita asneira. Há gente que pega aquelas informações e leva ao pé da letra sem filtrar. Apesar de muitas se automedicarem e estipularem diagnósticos próprios, a maioria ainda busca o PS para receber a atenção do médico.
Conselho_ O senhor é a favor da eutanásia?
Rodolfo_ Em quadros irreversíveis não acho que deva se prolongar o sofrimento. Você não deve lançar mão de recursos extraordinários para manter a vida artificialmente quando sabidamente não há chances de recuperação. Se você pegar um paciente canceroso em fase terminal, porque você vai levá-lo para a UTI e mantê-lo longe da família para que ele viva por um dia a mais? É justo? O paciente morre muito mais feliz na casa dele, na cama dele.
Se fosse secretário municipal de Saúde, que medidas tomaria?
Rodolfo_ Nunca fui funcionário público e não conheço a dinâmica, mas Sorocaba melhorou em gestão nos últimos anos.
A saúde está preparada para esta nova Sorocaba que começa a ser formada na zona norte graças à Toyota? A Unimed pensa em se instalar naquela região?
Rodolfo_ É preciso que se veja não onde estará a fábrica da Toyota, mas onde seu pessoal irá morar. Existe a necessidade de irmos para a região do Éden, mas a inflação imobiliária chegou e o que estão nos pedindo por terrenos e imóveis é absurdo. Quando se tem um bom serviço o paciente vai até você. Prova é o Hospital Oftalmológico, que atende gente do Brasil inteiro.
Novo perfil do médico
Segundo a análise de Rodolfo, o médico de hoje em dia tem um perfil definido: tem dois empregos, não quer mais consultório e nem ser chamado fora de hora.
135
mil conveniados é quanto a Unimed atende em Sorocaba e cidades de seu entorno. Para isso conta com mais de 900 médicos e 1,2 mil funcionários
Unimed e o SUS
A Unimed realiza transplantes de coração e fígado via SUS e em breve deverá começar a realizar transplantes de medula também pelo Sistema Único de Saúde.
Pacientes agressivos
O presidente da Unimed afirma que hoje em dia é difícil se conseguir médicos que atuem em plantões em razão do número de pacientes agressivos ser cada vez maior. “ Não há tolerância ou solidariedade. Se você chegar em estado de risco eminente de vida e eu te passar na frente, aquele que está com uma dor há um mês não admite esperar. Não é só fenômeno na rede pública.”
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