Schincariol é vendida 100% para o grupo japonês Kirin

Por 2,5 bilhões de reais, o grupo japonês de bebidas acertou a compra da participação de 49,55% restante da cervejaria de Itu - Por: ARQUIVO

As disputas judiciais ocorridas nos últimos três meses que marcaram a negociação de venda da cervejaria Schincariol chegaram ao fim. Os japoneses da Kirin e os sócios minoritários da Schincariol chegaram a um acordo. Os irmãos Gilberto, José Augusto e Daniela concordaram em vender os 49,55% que tinham na cervejaria fundada por seu avô e devem receber cerca de 2,5 bilhões de reais dos japoneses.

Em agosto, a Kirin fechou a aquisição do controle da Schincariol por 3,95 bilhões de reais, assumindo a participação de 50,45% que os ex-sócios Alexandre e Adriano Schincariol, tinham na empresa por meio da Aleadri-Schinni Participações e Representações. Os minoritários representados pela holding Jadangil questionaram na Justiça a venda do controle da Schincariol, mas agora aceitaram vender sua participação na cervejaria.

Os três irmãos decidiram sair do negócio depois que o Tribunal de Justiça de São Paulo cassou uma liminar que suspendia a venda dos 50,45% dos irmãos Adriano e Alexandre para a Kirin. Os minoritários alegaram na Justiça que uma cláusula contratual lhes garantia o direito de preferência na compra da parte dos primos. Uma juíza de Itu concedeu a liminar suspendendo o negócio, que foi derrubada no mês passado.

A queda nas vendas da Schincariol nos últimos meses e a perda de participação de mercado - pela primeira vez desde 2005 a empresa deixou a vice-liderança do setor, agora ocupada pela Petrópolis - foi decisiva para a saída dos minoritários. Na avaliação de Gilberto, essa disputa poderia durar meses e a companhia continuaria a sangrar e a perder espaço e dinheiro. Caso não conseguisse reverter a situação na Justiça, Gilberto e seus irmãos poderiam perder muito dinheiro e vender sua participação na companhia por bem menos do que acaba de ser acertado.

A Schincariol - dona das marcas Nova Schin, Devassa, Glacial, Baden Baden e Eisenbahn, além de refrigerantes, sucos e água - teve lucro de 54 milhões de reais em 2010 e receita líquida de quase 2,9 bilhões de reais.

No mês passado, pouco antes da decisão da Justiça de suspender a liminar e garantir que os japoneses tomassem posse do negócio, os minoritários haviam acertado as bases para a venda da participação para a Kirin. Mas os japoneses pediram um prazo maior do que o combinado inicialmente para o pagamento do valor e o negócio não foi fechado.

Desde o início desta semana, as duas partes voltaram a conversar. Na quarta-feira, feriado de Finados, chegaram a um pré-acordo. Gilberto e os irmãos pretendiam receber os mesmos 3,95 bilhões de reais pagos a Adriano e Alexandre. Os japoneses se dispunham a pagar 2 bilhões. O acordo foi fechado em torno de 2,5 bilhões de reais. A Schincariol, fundada em 1939 pelo filho de imigrantes italianos Primo Schincariol nos fundos de uma pequena casa em Itu, deixa de ser, definitivamente, uma empresa familiar e torna-se parte de um dos maiores grupos de bebida do Japão.

Mercado

A aquisição da cervejaria brasileira Schincariol pela japonesa Kirin deve ter impacto em todo o setor de bebidas no Brasil. "Essa aquisição irá fortalecer a estratégia integrada de bebidas do grupo, dando à Kirin uma base sólida no crescente mercado brasileiro, aliada às bases existentes na Ásia e Oceania", informou a Kirin, em um comunicado.

A empresa já convocou uma conferência com jornalistas no Japão para falar sobre a aquisição. A compra da Schincariol pela cervejaria japonesa surpreendeu o setor, embora já se soubesse que a empresa asiática tinha interesse em se expandir no mercado latino-americano. A Kirin fez jus à conhecida discrição dos japoneses, que costumam ser reservados na condução de seus negócios.

A Schincariol, que detém 11% de participação no mercado brasileiro de cervejas, enfrenta uma dura competição da AmBev, que controla entre 68% e 69% do mercado.

Notícia publicada na edição de 04/11/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul