Recurso é usado principalmente na presença de pessoas estranhas.
Regina acredita que cupópia pode acabar extinta. (Foto: Mayco Geretti/G1) |
Regina Aparecida Pereira, coordenadora da comunidade, afirma que a língua oferece a comodidade de uma conversa privada, sem que os quilombolas precisem sair de perto dos visitantes. 'Normalmente é para falarmos mal de algo. Nada pejorativo, mas sim sobre suas intenções. É claro que às vezes comentamos que determinada pessoa é esquisita ou algo assim", brinca a quilombola.
Não há professores da cupópia. O aprendizado ocorre no dia-a-dia e depende, fundamentalmente, da força de vontade de quem quer conhecer a língua. "É uma língua que tem um som muito diferente, mas quando se aprende algumas palavras, dá para avançar", afirma Regina.
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Atualmente cerca de 10 pessoas conhecem o dialeto no Cafundó, onde vivem 24 famílias. Na década de 1970, eram pelo menos 40 pessoas que dominavam o dialeto. Regina afirma que por só ser usada em situações especificas, a cupópia acabou deixando de atrair as novas gerações. O uso secreto de dialetos africanos era usado pelos escravos para tramar planos contra os escravagistas no Brasil Colônia.
O alcance da cupópia
Em 1878 o dono de uma propriedade rural de Sarapuí, a Fazenda Caxambu, que fica na região de Salto de Pirapora, morreu sem deixar descendentes. A propriedade foi herdada por escravos. Na mesma época, formava-se o Cafundó, uma comunidade quilombola integrada por escravos já libertos. Com o casamento de Caetano Manuel de Oliveira, habitante de Caxambu, com Ifigênia, que vivia no Cafundó, o intecâmbio cultural difundiu a cupópia.
Regina explica que palavras como tata (pai) e cumbe (sol) são conhecidas por quase todos os moradores do Cafundó em razão da repetição, porém ela acredita que se não houver um trabalho de resgate da cultura popular do Cafundó, a cupópia está fadada à extinção. "Não podemos forçar um jovem a aprender uma língua. Isso tem que partir deles. Acredito que é uma parte importante de nossa cultura que precisa ser perpetuada."
Artesanato resiste
Apesar de muitos aspectos da cultura do Cafundó estarem se perdendo com o tempo, o artesanato típico resiste. Existe até uma lojinha para os turistas, que nunca saem de mãos vazias nas visitas aos quilombolas. Como matéria-prima para as estátuas, quadros e enfeites são usadas cascas de milho, palha, folhas de bananeira, entre outras. Também há tapeçaria, feita em teares de madeira.
Foto: Adriano Vincler |
Com as terras invadidas por propriedades rurais ao longo das décadas, os moradores do Cafundó abandonaram a lavoura e o artesanato e saíram da comunidade em busca de emprego no comércio e indústria. Com a reintegração de parte das terras anunciada no começo de fevereiro, os quilombolas poderão, após cerca de 40 anos de limitações, voltar a trabalhar em seu território. A intenção é que as pessoas que hoje trabalham na cidade retornem para se dedicar somente à comunidade.
Camila mostra os artesanatos expostos em lojinha que atende os visitantes. (Foto: Mayco Geretti/G1) |
Do G1 Sorocaba
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