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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Jornal Cruzeiro do Sul - Editorial sobre a SP-264 Rodovia João Leme dos Santos

Crônica de algumas mortes anunciadas

Não é necessário ter bola de cristal para saber que nos próximos meses (ou quem sabe semanas) mais pessoas perderão suas vidas no local

Em pouco mais de um mês e meio, oito mortes. Essa foi a informação trazida na última sexta-feira por este jornal, após contabilizadas mais duas vítimas fatais de acidentes na SP-264, a rodovia João Leme dos Santos, que liga Sorocaba a Salto de Pirapora, cujo trecho crítico está localizado entre os quilômetros 102,5 ao 119,2.

O principal inimigo dessa batalha travada diariamente por muitos motoristas de Sorocaba e região tem nome: se chama morosidade governamental, também conhecida como falta de vontade política. Apesar do governador Geraldo Alckmin ter anunciado que até o final do ano as obras para a duplicação seriam iniciadas, essa é a típica situação que exige uma solução para ontem. Na verdade, ontem já seria tarde. Neste mesmo jornal, há mais de um ano (em novembro de 2010), o jornalista Wilson Gonçalves Júnior fez uma reportagem detalhada sobre o assunto, onde apontava que os usuários da rodovia já clamavam por solução há mais de dez anos. As soluções não vieram e, por outro lado, os problemas só aumentaram ao longo do tempo devido ao crescimento do fluxo no local com a chegada de novos empreendimentos imobiliários, com a instalação do câmpus da Ufscar e também com muitos caminhões que, proibidos de circular pelo centro de Votorantim, transformaram a SP-264 em rota alternativa. A lentidão dos caminhões, aliás, faz com que muitos motoristas dêem vazão à impaciência e se arrisquem em perigosas ultrapassagens.

Não é necessário ter bola de cristal para saber que nos próximos meses (ou quem sabe semanas) mais pessoas perderão suas vidas no local. E como conviver com isso?

Levando em consideração os dados dos últimos 47 dias, quando morreram oito pessoas, pode-se chegar à seguinte estimativa aproximada: a cada seis dias, uma pessoa morre na SP-264. Sendo assim, caro governador, o final do ano pode parecer um tanto quanto distante, certo? Sem contar que a partir do início das obras até a sua conclusão, longos meses continuarão por aterrorizar aqueles que precisam enfrentar esse caminho, que se revelou sem volta a tantas pessoas nos últimos anos. Falta de acostamento, péssima sinalização e má conservação do asfalto deixam a pista de mão dupla ainda mais perigosa. Sem contar que os pedestres também não têm alternativa, a não ser a sorte, quando o objetivo é atravessar a pista, já que não há passarelas no local.

A questão foi levantada por este jornal à exaustão. Mas é impossível se cansar - e calar - diante da situação. Assim também pensam muitos dos estudantes do câmpus da Ufscar, que enfrentam o medo todos os dias para continuar a frequentar as aulas. Os universitários chegaram a fazer uma intervenção no local, quando levaram velas, cruzes e cartazes em mais um protesto. Na ocasião, também homenagearam as vítimas que muitas vezes eles viram estentidas no chão quando chegavam ou saíam das aulas.

Abaixo-assinados, os moradores, que têm a SP-264 como o caminho da roça, já perderam a conta de quantos foram feitos. Aliás, até a quantidade exata de vidas perdidas no local durante os últimos anos já se perderam na memória. Mas, com certeza, a memória não trai a mãe que perdeu um filho no local, o amigo que viu a vida de um companheiro de trabalho ser levada em mais um acidente ou da esposa que voltou para casa sem marido. A estatística pode até maquiar a dimensão humana do problema: oito morreram nos últimos 47 dias. São números. A dor é infinita.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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