Agência do INSS em Salto de Pirapora - Foto: Arquivo Blog Adriano Vincler |
A iminência da reforma previdenciária, agora oficializada, mas que já vinha sendo anunciada há meses, provocou um aumento de 26,3% nos pedidos de aposentadoria da região de Sorocaba entre os meses e agosto e outubro deste ano. Juntos, os três meses tiveram, na média, 3.390 novos pedidos pelo benefício, enquanto no restante do ano, esse índice é de 2.682 ingressos na autarquia federal a cada 30 dias. Com a mudança prevista, a brecha antes da implementação integral do novo modelo previdenciário deve aumentar ainda mais a procura aos postos do INSS.
O dado é consideravelmente mais elevado se comparado também com os mesmos três meses de 2015, quando chegou a 8.120 o número de contribuintes dando entrada com o pedido junto ao órgão. Em 2016, nestes 90 dias, foram 10.171 ingressos. No acumulado do ano (até outubro) já são quase 29 mil pedidos, enquanto em todo o ano de 2015 foram concedidas 32.379 aposentadorias. De acordo com dados do mês de novembro do INSS/SP, o número de beneficiários na região chega a 244.923.
A área compreendida pela regional do órgão abrange 19 cidades: Apiaí, Boituva, Cabreúva, Capão Bonito, Guapiara, Itapetininga, Itapeva, Itararé, Itu, Piedade, Pilar do Sul, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, São Miguel Arcanjo, São Roque, Sorocaba, Tatuí e Votorantim.
Apesar do aumento na procura pelo benefício da aposentadoria, de acordo com o INSS, atualmente o tempo da fila de espera pelo atendimento nas agências do órgão na região diminuiu. Em agosto, o prazo (entre o agendamento e o atendimento prestado no INSS) era de 108 dias, tempo diminuído para 77 dias no mês seguinte e chegando a 72 dias em outubro. A solicitação do benefício não precisa ser feita obrigatoriamente na cidade onde o contribuinte reside, por isso, muita gente busca os municípios com menor fila de espera para dar entrada na aposentadoria.
Longa espera
Para quem aguarda há um bom tempo pela aposentadoria e já possui mais de 50 anos, a reforma previdenciária não irá trazer impacto. Mas nem por isso a mudança deixa de chamar a atenção do contribuinte em vias de obter o benefício. A dona de casa Cecília Gomes da Silva, de 57 anos, já deu entrada com o pedido e espera há cerca de um ano pela aposentadoria. Sem sucesso na primeira tentativa, ela acionou um advogado para agilizar o processo. Ela tem ciência de que as mudanças previdenciárias não irão afetá-la, mas não deixa de ter um pé atrás. "A esperança é a última que morre e eu realmente espero que isso não me prejudique."
O motorista Gedeel Francisco Alves, de 57 anos, também luta há um bom tempo pelo direito à aposentadoria. Nos cálculos próprios, ele já acumular 39 anos de serviços prestados, mas ainda assim, o processo segue emperrado. Ele solicitou o benefício em uma agência do INSS em São Paulo e, embora reconheça que não será afetado pela reforma previdenciária, mostra descontentamento com as mudanças propostas pelo governo. "Querem que nós trabalhemos até os 70 anos para ter sempre de onde roubar", critica.
Crise e desemprego também influenciam procura
Apesar de considerar a iminência da reforma previdenciária o principal fator para o aumento da procura pela aposentadoria, a presidente da Comissão de Direito Previdenciário da 24ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Sorocaba, Ana Letícia Pellegrine Beagim observa outro ponto importante que impulsiona a busca pelo benefício. "Com a crise e o desemprego em alta, as pessoas enxergam a aposentadoria como um respaldo, uma salvaguarda caso aconteça algo", explica.
A advogada considera que, com as mudanças, o maior prejuízo se dará para a população que está na metade do tempo de contribuição. "Quem é mais novo já pode fazer um planejamento pensando no pior, mas contribuiu por 15 ou 20 anos fica numa situação complicada, pois ainda terão de trabalhar muito tempo até se aposentar e refazer planos", analisa. Ana Letícia reconhece a necessidade de uma reforma na previdência, porém, acredita que o tema deva ser melhor analisado antes da implementação. "A reforma, da maneira como o governo pretende fazer, é muito drástica. Até pela nossa realidade do mercado de trabalho, que é preconceituoso com pessoas com mais de 40 anos."
A especialista orienta para que, apesar da iminência de mudanças no fator previdenciário, o contribuinte não se desespere. "É importante estar atento às notícias e às suas fontes e consultar um advogado especialista e de confiança para fazer os cálculos", diz. Ana Letícia acredita que, se informando sobre o assunto e encaminhando os trâmites burocráticos, o interessado no benefício dificilmente terá surpresas desagradáveis no futuro. Ela lembra que, por se tratar de uma matéria que precisa de aprovação no Congresso, seu trânsito e prazo de implementação são imprevisíveis.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
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