Salto de Pirapora Notícias

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sábado, 16 de novembro de 2013

Preço da terra para agropecuária sobe 390% em dez anos

Expansão urbana é apontada como o principal motivo da redução de áreas ao setor agrícola
Em geral, donos de áreas rurais
vendidas raramente compram
novas terras para agricultura
Arquivo JCS/Emidio Marques

O preço de terra na área rural de municípios da região de Sorocaba aumentou até 390% nos últimos dez anos, de 2003 a 2013. De acordo com números do Instituto de Economia Agrícola (IEA), em 2003 o preço médio do hectare de terra nua custava R$ 3.213.96 e no primeiro semestre de 2013, R$ 15.754,13. A expansão imobiliária, com a construção de condomínios e loteamentos, que avança nas áreas rurais, é o principal motivo para o aumento do preço da terra, de acordo com o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba, Luiz Antonio Marcello. As áreas para agricultura e pecuária diminuem na região, principalmente em Sorocaba e municípios vizinhos, que vivem uma fase de crescimento imobiliário.

O levantamento do IEA é feito por meio de informações passadas por técnicos das Casas de Agricultura. Foram 16 informantes para se chegar ao preço do hectare na região do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Sorocaba, que abrange 19 municípios. O menor valor verificado em 2013 foi de R$ 4.132,23 e o maior, de R$ 33.057,85. Como comparação, a região de Registro, no Vale do Ribeira, o preço médio do hectare é de 2.169,42: na de Itapeva, R$ 7.742,03; e na de Itapetininga, R$ 12.138,43. O preço de terra nua por região pode ser consultado no site do IEA: www.iea.sp.gov.br.

Foto: Arquivo Adriano Vincler
Além de Sorocaba, Votorantim, Salto de Pirapora e Itu, entre outros, têm as áreas rurais mais próximas à cidade transformadas em loteamentos ou condomínios. Melhorias no sistema viário aceleram esse processo, como ocorre atualmente na rodovia João Leme dos Santos (SP-264), que liga Sorocaba a Salto de Pirapora. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba, em Salto de Pirapora há cinco condomínios em projeto ou construção. Para ele, o crescimento das cidades pressiona o pequeno agricultor - com cobrança de impostos mais altos (por ser incluído na área urbana, como IPTU) e taxas, burocracia (exigência de documentação que muitas vezes não tem) e problemas decorrentes da urbanização - e que muitas vezes não vê outra saída senão vender a propriedade.



Sem planejamento

Luiz Marcello criticou a expansão imobiliária sem critérios e planejamento. De acordo com ele, isso vem acontecendo em Sorocaba e municípios vizinhos. O preço maior da terra, em vez de uma valorização da agropecuária na região, mostra que está perdendo espaço para novos empreendimentos imobiliários, considerou o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba. O prejuízo é tanto para o meio ambiente e qualidade de vida, citou Marcello, como para o setor agrícola, pois as propriedades ficam mais distantes dos centros urbanos, o que se reflete em dificuldades de transporte e aumento de preços dos produtos que têm que chegar às cidades.
O presidente do sindicato destacou como áreas protegidas da expansão imobiliária as zonas rurais de Piedade e Ibiúna, dois dos municípios de maior produção de hortifrutigranjeiros do Estado de São Paulo. "As imobiliárias não se interessam por essas áreas devido ao relevo, acidentado, nem podem ser plantados eucalipto e cana-de-açúcar", diz Marcello. Piedade e Ibiúna estão incluídos entre os 19 municípios da região administrada pelo EDR de Sorocaba.

Sorocaba

Em Sorocaba há cerca de 1.200 propriedades rurais, concentradas nos bairros Caguaçu, Mato Dentro, Genebra, Brigadeiro Tobias, Ipanema do Meio, Ipanema das Pedras e Caputera. O bairro Caputera, próximo à rodovia Raposo Tavares, é exemplo da transformação da cidade. Antes, eminentemente rural, está virando bairro de condomínios. Há dez projetos de novos empreendimentos, além dos que já existem. Moradores mais antigos se preocupam com a rápida mudança e os riscos para o meio ambiente e redução da agricultura ainda praticada por pequenos proprietários rurais, como mostrou reportagem publicada no jornal Cruzeiro do Sul no início de setembro.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba, a produção agrícola no município é diversificada, apesar da área rural pequena. Pela revisão do plano diretor, a zona rural de Sorocaba ocuparia 18,86% do município, correspondente a 84,7 do total de 449,8 quilômetros quadrados. Se plantam legumes, tubérculos e verduras, que abastecem supermercados e feiras livres da cidade. Para Marcello, a zona rural de Sorocaba é desconhecida pela maioria dos moradores da cidade e não há uma política para manter o agricultor em sua propriedade.

Rigidez vizinha

Marcello disse que a iniciativa da Prefeitura de Araçoiaba da Serra, de critérios mais rígidos para liberação de novos loteamentos e condomínios em áreas rurais. Há grande número de chácaras no município. De acordo com ele, há preocupação no sentido de controlar essa expansão. A instalação de agroindústrias, como a Norac, que produz sanduíches naturais, saladas e outros alimentos prontos, inaugurada no início do mês em Ibiúna, podem ser benéficas para agricultura na região, observou o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba. A escolha de Ibiúna levou em conta a produção local de legumes e verduras.

Falta em Sorocaba e região uma política para preservar a agricultura nas pequenas propriedades, conforme Marcello. "O agricultor não quer dinheiro nem subvenção. Quer ter condições para continuar produzindo, sem sofrer pressões", diz o presidente do Sindicato Rural de Sorocaba. Critérios bem definidos de áreas rurais no município e aproveitamento de terrenos vagos dentro da zona urbana para a construção de condomínios são medidas que contribuiriam para uma melhor qualidade de vida, conforme Marcello. "É preciso enxergar por cima dos muros."

Os donos de propriedades rurais que são vendidas raramente compram novas terras para agricultura, em outro lugar, segundo Marcello. "Preferem mudar para a cidade". Áreas muito distantes têm estradas ruins, são isoladas e é difícil para alguém, com certa idade, começar tudo de novo. Com a desvalorização da agricultura, os filhos não prosseguem com a atividade do pai e escolhem outra profissão, mais rentável e na cidade. "Às vezes, até voltam, mas tendo a propriedade como espaço de lazer ou a agricultura como hobby."

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