Salto de Pirapora Notícias

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Projeto recebe prêmio Educador Nota 10

| "Sentiver - inspiração, conteúdo e leveza" foi criado pela professora Carmem Machado - (Fotos: Ariane Chiebao)

A liberação da imaginação infantil através de brincadeiras populares como dança das cadeiras, amarelinha e cobra-cega são elementos que compõem o projeto educacional "Sentiver - inspiração, conteúdo e leveza", elaborado pela professora de educação artística Carmem Machado. Ele foi desenvolvido com os alunos da 6ª série da escola estadual Professor Benedicto Leme Vieira Neto, no Jardim das Bandeiras, periferia de Salto de Pirapora, colégio onde há oito anos a educadora leciona aulas de educação artística.

O projeto virou um espetáculo de dança com apresentações em escolas, universidades e na Câmara Municipal daquela cidade. E por causa do seu teor educacional inovador foi selecionado entre 3 mil projetos inscritos para receber o Prêmio Vitor Civita Educador Nota 10, o mais importante prêmio voltado a Educação na América Latina. A cerimônia de entrega do prêmio está marcada para ocorrer no dia 14 de outubro na sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, no centro da capital paulista.


No projeto "Sentiver", a educadora explora a linguagem da dança contemporânea - unida a performance teatral - e a desenvolve com as crianças em ambiente natural, focando o trabalho nos elementos água, terra, ar e fogo. Para a encenação, o projeto contempla como palco das ações, folhas secas, árvores, galhos, papeis e água. Destaque para os recursos naturais, já que o trabalho também carrega o aspecto da educação ecológica que também carrega o projeto.


"É um trabalho de estética e movimentos da dança e do teatro. Nele desenvolvemos o equilíbrio e controle físico, alinhado a expressão, sentimentos, lembranças", explica Carmem. Ela conta que o projeto artístico e educacional feito com os alunos foi finalizado no ano passado, mas levou sete anos para ficar pronto. Nesse tempo, o grupo recebeu orientações sobre a linguagem corporal e conceitos de autoconhecimento. Os estudantes também assistiram vídeos da bailarina alemã Pina Bausch, cujas coreografias eram baseadas nas experiências de vida dos bailarinos e feitas conjuntamente.
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"Com esse novo olhar, a dança-teatro foi se construindo a partir da relação do corpo com o meio ambiente. O diálogo com a natureza permitia o nosso experimento com a espaço, as árvores e a relação entre eles. Toda a construção de cenas e movimentação são a partir de suas brincadeiras juntamente com a partitura rítmica da performance, que foi construída por eles", traduz a educadora.


 
Recurso pedagógico

O projeto "Sentiver - inspiração, conteúdo e leveza" teve início, segundo Carmem Machado, a partir do seu questionamento sobre o uso da dança e do teatro como recurso pedagógico no ambiente escolar. Ela conta que as questões a incomodavam muito porque, por exemplo, o teatro feito na escola era muito diferente do teatro feito fora do espaço escolar. Já a matemática e o português eram iguais. E ainda, como comparação, a dança era meramente cópia do que se via na TV.


"Qual o motivo de ensinar algo que se distancia da realidade? Sem falar que nada é pensado esteticamente, não existe a consciência do corpo com o espaço.Tudo é feito de qualquer forma. O texto não conduz com o corpo e a falta de cuidado com o figurino também deixa o teatro com menor valor", analisa a educadora. Foi diante destas constatações que a professora começou a trabalhar com jogos teatrais de Viola Spolin e trazer noções de movimentação, utilizando as técnicas de Rudolf Laban.


Outro fator importante para o sucesso do projeto, segundo Carmem, foi nunca focar no produto final que levou o processo durar sete anos. "A diretora da escola e a coordenação sofreram muito para entender isso. Pois nós nunca estávamos prontos paras festa de final de ano, dias dos pais, do folclore etc.


Primeiro fomos construindo um pensamento estético, com a apropriação da espacialidade, para somente depois encarar um público. Esperamos a vontade ser maior que a vergonha", lembra a educadora nota 10, que menciona a necessidade que houve de sobreviver à negatividade das pessoas e a tantos "nãos" diários. A falta de espaço adequado, junto ao número excessivo de alunos na sala de aula e pouco material, também foram dificuldades para o desenvolvimento do projeto.


"Número restrito de aulas, apenas uma hora e quarenta por semana. Fazer com que os alunos se ajudassem, eram muito individualistas, foi um grande desafio. E que foi vencido", ressalta a educadora, comentando que para o projeto foram utilizamos recursos do Prodesc, principalmente, para compra de adereços de cenas, figurinos e livros para pesquisa.


Maior aprendizado

"Presenciei momentos delicados. Um deles foi a de uma menina, 7 anos, sem blusa num frio tremendo, porque a única blusa estava para lavar. Lembro que quando eu chegava na escola, meus alunos corriam para me encontrar já no estacionamento da escola. Eles gostavam da aula diferenciada que eu dava. E assim fomos crescendo ao longo de sete anos", recorda a educadora Carmem Machado. Ela conta que no ano passado uma família participou de uma intervenção na escola e, assim que viram o projeto do seu filho, foram na casa e pegaram instrumentos musicais e inseriram na obra. 


Outra lembrança é de um pai chorando ao assistir o espetáculo "Conheceu a dança contemporânea através da sensibilidade. O grande aprendizado foi que é possível ter leveza enquanto se aprende. É possível ter uma educação com liberdade e respeito. Mas isso precisa partir do professor primeiramente, é preciso estar muito seguro, é preciso saber o que realmente quer", ressalta a professora que no início da carreira abandonou o magistério para trabalhar numa agência bancária por conta do baixo salário pago aos professores.

"Foi o momento mais difícil da minha vida. Chorava todos os dias. Mas tinha um objetivo: terminar o curso de Educação Artística. Foi a única forma que encontrei para fazer a graduação, porque tinha que bancar os estudos sozinha. Meus pais tinha perdido tudo durante o plano Collor", relata Carmem, comentando que ficou treze anos no banco, porém o objetivo era voltar a dar aula. Nesse período fez especialização em artes cênicas e prestou concurso para trabalhar na rede pública de ensino. Passou e começou a trabalhar nessa mesma escola, onde está há oito anos, e que conquista o prêmio de projeto educacional realizado com o seus alunos.

Notícia publicada na edição de 22/08/13 do Jornal Cruzeiro do Sul

Veja no site da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Um comentário:

Carmem Machado disse...

Por favor esqueceram de dar créditos as imagens que são de Ariane Chiebao.

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