Van adaptada para deficientes é usada de forma irregular no transporte de merenda

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Van adaptada para deficientes é usada de forma irregular no transporte de merenda

Diversas panelas cheias de alimentos são levadas em veículo sem condições adequadas de higiene em Salto de Pirapora. Prefeito alega que não sabia da situação.

(Foto: Reprodução vídeo TV TEM)

Uma van adaptada para transportar pessoas com deficiência está sendo usada irregularmente para levar merenda às escolas municipais e estaduais em Salto de Pirapora (SP).

O transporte improvisado foi flagrado pela equipe de reportagem da TV TEM e mostra um furgão sem as condições de higiene adequadas com pelo menos 10 panelas cheias de comida.

O prefeito de Salto de Pirapora, Joel David Haddad (PDT), afirma que não sabia que a Secretaria de Educação tinha contratado a van provisoriamente e prometeu resolver a situação.

As imagens feitas pela TV TEM mostram que, assim que para na frente da escola, o ajudante da van afasta o contêiner cheio de lixo para dar lugar ao carrinho onde vão as panelas. É ele quem leva a comida para dentro da unidade.

A van que acabou de fazer a entrega na escola vai para outra unidade escolar e o procedimento é semelhante. Neste caso, uma mulher que está com um uniforme de cozinha aproveita que está do lado de fora do prédio para acender um cigarro ao lado do alimento.

Merendeira de Salto de Pirapora foi flagrada fumando durante entrega de alimentos à escola (Foto: Reprodução TV TEM)

Sem higiene

Durante a entrega em outra unidade escolar, é possível ver que o piso da van é de ferro e as panelas ficam no mesmo lugar dessas caixas plásticas.

Além disso, uma bandeja com sacos de carne crua fica exposta em contato com o assoalho do veículo e sem refrigeração, o que é proibido pela Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo.

Segundo a portaria de abril de 2013 da Vigilância Sanitária, o compartimento que transporta a merenda escolar tem que ser revestido, impermeável, não tóxico e resistente a procedimentos de higienização para transportar alimentos prontos ou não.

A legislação também ressalta que o motorista deve ficar em uma cabine isolada, sem contato com a carga, e que a temperatura deve estar em conformidade com o alimento transportado. Neste dia, o termômetro passava dos 30ºC.

Prática condenada

Uma bandeja com carne sem refrigeração e em contato direto com o assoalho do veículo foi encontrada (Foto: Reprodução TV TEM)

As imagens da reportagem da TV TEM foram analisadas pelo Conselho Regional de Nutricionistas em São Paulo, que condenou a prática usada em Salto de Pirapora.

“Os produtos transportados, sejam as caixas plásticas, as panelas, não podem estar em contato direto com o piso do veículo. É necessário um estrado lavável e impermeável", explica Débora Cabanes Bertolomeu do Conselho.

Débora aponta ainda que existe uma série de resquisitos importantes, como a questão da licença de funcionamento do veículo para transporte de alimentos, que é dada pela Vigilância Sanitária Municipal.

A representante do Conselho Regional de Nutricionistas informa que a saída das merendeiras das dependências da cozinha torna passível a contaminação por bactérias externas, vindas da poeira, por exemplo.

Além dos flagrantes de irregularidades sanitárias, a van usada pela prefeitura não é municipal. O veículo pertence a uma empresa que acabou de ganhar uma licitação para o transporte escolar na cidade.

A prefeitura diz que fez um contrato emergencial para não deixar as escolas desabastecidas, mas não informou o valor do contrato.

A Transparência Brasil, que fica de olho nos gastos públicos, afirma que a prefeitura deveria divulgar os valores gastos, que devem ser acordados e devidamente publicados.

“Isso gera gastos para o munícipio, e toda despesa deve ser indicada de onde vem, o que está sendo pago com que, onde está o contrato. Há uma falta de transparência que acaba levantando uma série de suspeitas sobre a lisura deste serviço”, afirma a diretora de operações, Juliana Sakai.