Salto de Pirapora Notícias

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sorocabano é a vítima mais jovem da ditadura

Marcos Antônio Dias Batista, na época com 15 anos, é reconhecido pelo governo como desaparecido político
REPRODUÇÃO / ARQUIVO DA FAMÍLIA
O caminhoneiro Waldomiro Dias Baptista sempre colocava um retrato no bolso do paletó antes de sair de casa. O ritual era uma tentativa de encontrar o garoto de 15 anos de idade presente na fotografia, de porte físico atarracado e cabelos penteados para o lado. A imagem continha o rosto de seu filho, o sorocabano Marcos Antônio Dias Batista, reconhecido pelo governo brasileiro como o mais jovem desaparecido político do regime militar no País. O estudante, militante da Frente Revolucionária Estudantil, vinculada à Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) Palmares, foi visto pela última vez entre março e maio de 1970 no norte de Goiás - atual estado do Tocantins. Os seus restos mortais nunca foram encontrados. 

O nome de Marcos Antônio é um dos 362 que integram a lista oficial da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria de Direitos Humanos. O sumiço do estudante ocorreu há 44 anos e até hoje o governo federal não conseguiu responder três perguntas à família: a data precisa do desaparecimento, a causa da morte e a localização do corpo. 

As circunstâncias do desaparecimento são relacionadas à participação de Marcos Antônio na VAR Palmares pelos lados do Centro-Oeste do País. A organização guerrilheira, considerada de extrema esquerda, era formada por vários grupos de resistência ao regime. Um dos seus integrantes foi a atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff. O objetivo era combater o sistema vigente, com simples contestações verbais até a utilização de táticas de guerrilha, que incluíam sequestros e assaltos. 

O sumiço de Marcos Antônio, que sonhava com uma revolução socialista, transformou a vida de seus pais em uma busca incansável por respostas. Waldomiro Dias Baptista, nascido em Salto de Pirapora, e Maria de Campos Baptista viajaram por todos os cantos do País na tentativa de encontrar alguma notícia relacionada ao estudante. Percorreram presídios de Goiânia, Brasília e Juiz de Fora, para onde eram levados presos políticos. Tentaram localizá-lo inclusive fora do Brasil. Com a Lei da Anistia, em 1979, recepcionaram exilados em saguões de aeroportos na esperança de revê-lo. 

O patriarca da família chegou a visitar Porto Velho, capital de Rondônia, pois soube que um padre da cidade havia abrigado um rapaz com o mesmo nome. Ao chegar lá, descobriu que a pessoa em questão não tinha as características físicas de seu filho. 

Waldomiro morreu atropelado em 1992, aos 86 anos, sem ter notícias de Marcos Antônio. A assistente social Maria de Campos prosseguiu a busca pelo filho. Em 15 de fevereiro de 2006, ela teve um encontro com o então ministro da Defesa e vice-presidente da República, José Alencar. A audiência ocorreu por meio de uma decisão judicial e serviu para a família pedir mais empenho nas investigações. 

Após a reunião em Brasília, Maria de Campos seguiu de carro rumo a Goiânia. No trajeto, o veículo se envolveu em um acidente na BR-060. A batida provocou a morte da mãe de Marcos Antônio, aos 78 anos de idade, e encerrou uma luta de mais de três décadas pela verdade.

Noticia publicada no Jornal Cruzeiro do Sul -  | ANOS DE CHUMBO

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