Sem pagamento de salários, 23 caminhoneiros de empresa terceirizada
decidem cruzar os braços
Foto: ADIVAL B. PINTO - JCS |
Estão paradas as obras de duplicação da
rodovia João Leme dos Santos (SP-264), no trecho entre Sorocaba e o campus da
Universidade Federal de São Carlos. Um grupo de 23 caminhoneiros, responsável
pelo transporte de areia e pedras, está com os braços cruzados desde anteontem
por falta de pagamento. Os motoristas alegam que a Construtora Gomes Lourenço,
responsável pela execução do serviço, não honra com os salários há 40 dias.
A revolta dos caminhoneiros provocou a
interdição da SP-264, ontem de manhã, no período de 1 hora e meia. Pneus e
pedaços de madeira foram incendiados às 8h no quilômetro 109 da rodovia, bem em
frente ao imóvel que sedia o canteiro de obras da Construtora Gomes Lourenço.
Por meio de uma nota, a Gomes Lourenço
informou não ter nenhum vínculo empregatício ou contratual com as pessoas que
interditaram a rodovia João Leme dos Santos (SP-264). Na prática, a mão de obra
terceirizada dos motoristas havia sido contratada pela Betonetec Engenharia e
Construções _ que prestava serviço para a Gomes Lourenço.
Ontem, a Betonetec Engenharia anunciou o
rompimento do contrato com a Construtora Gomes Lourenço. A empresa havia sido
contratada para subempreitar as obras de duplicação do lote 1 da SP-264.
Quilômetro 109 da SP-264 - Imagem Google |
A Betonetec notificou a contratante em 29 de
maio diante da falta de pagamento. De acordo com o documento, a Gomes Lourenço
teria respondido que "não iria realizar o pagamento das medições em atraso
e que o contrato de subempreitada estava rescindido unilateralmente".
Na contranotificação, a Gomes Lourenço teria
informado o pagamento de alguns fornecedores. Porém, segundo a Betonetec, não
foi apresentado nenhum documento para provar o fato.
Dessa forma, a Betonetec pretende acionar a
justiça. A ideia é recuperar os valores devidos. Segundo Alberto Rodrigues
Junior, funcionário da empresa, a quantia gira em torno de R$ 1 milhão.
Os mais prejudicados com essa disputa são os
caminhoneiros terceirizados. A motorista Denise Sandoval, 28 anos, foi
contratada em abril para executar o serviço. Disponibilizou três caminhões para
o transporte de areia e pedras, mas não vê a cor do dinheiro há mais de um mês.
"Eles me devem uns R$ 57 mil", afirma.
Denise disse ter recebido dois cheques
pré-datados em 15 de maio com os valores de R$ 20.335 e R$ 5 mil por parte da
Betonetec. O saque seria feito somente em 30 de maio, mas o dinheiro nunca caiu
em sua conta. "Porque eu fui ao banco e soube que os cheques estavam
sustados", lembra.
Também sem receber está o motorista Silmar
Duarte, 31, que cobra o depósito de R$ 11 mil. "Se não houver novidades,
amanhã [hoje] fecharemos de novo a rodovia", garante.
O serviço de transporte de areia e pedra era
feito por 23 motoristas contratados de forma terceirizada. Segundo Duarte,
alguns foram a São Paulo e receberam os salários atrasados por parte da Gomes
Lourenço. "Mas, enquanto não houver essa definição, ninguém vai voltar a
trabalhar", comenta.
A Construtora Gomes Lourenço é responsável
pelo lote 1 da SP-264, que compreende os quilômetros 102 e 109,6. A empresa foi
contatada pelo governo estadual para desempenhar o trabalho pelo valor de R$
56,9 milhões.
Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem
(DER) do Estado de São Paulo, a Construtora Gomes Lourenço já foi multada duas
vezes por atraso nas obras. A primeira autuação ocorreu em março e custou R$
197,3 mil. A segunda aconteceu em abril, mas o valor não foi informado.
Ontem, o DER informou que estuda a quebra
unilateral de contrato após parecer jurídico. Isso acontecerá caso a empresa
Gomes Lourenço continue com atrasos no percentual de serviços realizados.
Além das multas, o DER parou de fazer o
repasse financeiro à Gomes Lourenço. A medida será feita até que a empresa
atinja o percentual previsto para receber a próxima parcela, conforme
contratado.
Ontem não havia nenhum operário com a mão na
massa no trecho 1 da obra. Os funcionários permaneceram em frente à sede da
empresa com os braços cruzados.
O único movimento era visto no trecho 2 da
SP-264. As obras nessa área são de competência da Compec Galasso, que realiza
os trabalhos a partir de Salto de Pirapora, entre os quilômetros 109 e 119. Ela
foi contratada por R$ 57,2 milhões.
Giuliano Bonamim
Notícia publicada na edição de 06/06/14
do Jornal Cruzeiro do Sul
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